sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

LEONOR FONSECA

Artigo de opinião.
A Nova Migração Feminina.

O fenómeno da emigração mudou. Substituiu os seus actores. Hoje verificamos que quem emigra em número considerável são mulheres, com qualificações superiores. O móbil é o mesmo de outrora: a busca por uma vida melhor, mais qualidade de vida (ou simples sobrevivência), ou seja, a resolução do problema da falta de emprego que atualmente assola o nosso País, a Europa e o Mundo.

A falta de perspectivas, a conjuntura económica e social existente hoje em dia, empurra os cidadãos para fora do seu país de origem. Mas os emigrantes de hoje são pessoas com características completamente diferentes daquelas que partiram nos anos 60/70.

Hoje, parte gente qualificada e fala-se em fuga de cérebros, cérebros esses cada vez mais do sexo feminino. As mulheres são hoje independentes, possuem habilitações superiores e saem de mote próprio.

Noutras décadas as mulheres acabavam por sair apenas por uma questão de reagrupamento familiar, perseguindo o futuro que o marido/companheiro havia escolhido para si e frequentemente dedicavam-se tão só ao papel de mãe, esposa e dona de casa. A sua intervenção cívica poderia passar, quanto muito, pelo papel - mesmo assim secundário - no associativismo. E contrariamente ao que muitos veiculam, não porque não tenham capacidade de intervenção ou vontade, mas tão só porque os cargos de direção eram inevitavelmente ocupados por homens, sobejando para as mulheres o eterno papel secundário.

Decididamente, afasta-se o papel da mulher enquanto elemento vulnerável, dependente do companheiro, actor passivo no processo migratório.

A mulher independente dos nossos dias faz carreira académica, é empreendedora, cria o seu próprio trabalho, gera riqueza e contribui para o desenvolvimento socioeconómico, quer do seu país de origem quer do país de destino.

A globalização, com o que isso tem de benéfico e maléfico e a alteração do mercado de trabalho conduzem a que a emigração no feminino tenha implicações económicas, sociais e laborais tornando-se verdadeiros agentes de mudanças e de desenvolvimento.

A nível mundial a população feminina instruída aumentou 68% em comparação com a masculina que apenas aumentou 42%.

Que as mulheres têm o mérito intelectual e a destreza de fazerem face à maternidade, tarefas domésticas e abraçar uma carreira profissional plena de profissionalismo competência e mérito, ninguém dúvida mas que os homens continuem inebriados pelo poder e deslumbrados com a sua própria eloquência e a reservar para as mulheres os sectores que consideram ainda hoje, serem mais adequados - leia-se cultura e social – onde entendem que apenas “chá e simpatia” serão requisitos essenciais – cometendo, ou melhor, continuando a cometer o erro crasso de não reconhecer à mulher o mérito que ela em si encerra.

São as mulheres, umas pelas outras que lutam há décadas para o merecido lugar de destaque, só conseguindo, e digo-o com mágoa, pelas quotas. Estas revelam-se um mal necessário num mundo cada vez mais guiado pelos interesses e politiquices, (não politica) que descredibiliza tudo e todos.

Estas são algumas das razões porque os “cérebros” femininos estão em fuga.

Mas mesmo em fuga a sua afirmação continua a ser difícil. Senão vejamos, recebemos em Portugal muitas mulheres dos PALOP, temos muitas profissionais qualificadas designadamente na área da saúde. Mas fica um “amargo de boca ”. Esta migração silenciosa, onde as mulheres continuam a ser vitimas da segregação ocupacional e em que ficam sempre sob a alçada de um supervisor/superior hierárquico, nem sempre ocupando os lugares correspondentes às suas habilitações académicas e mérito.

Em jeito de conclusão, as mulheres continuam a ser percecionadas como vítimas passivas, quer das estruturas patriarcais opressivas, quer dos ciclos impessoais do capital neoliberal.

Assim, perde-se a prespectiva estrutural, ou seja o móbil: a mulher tal como o homem migram para melhorar a sua vida, por alargar os seus horizontes, para ver reconhecidas as suas competências, o seu profissionalismo, a sua dignidade.

Mas é necessário continuar a LUTAR. Por isso estes espaços são importantes e imprescindíveis.
Obrigada pelo convite.
Bem hajam!

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