terça-feira, 17 de janeiro de 2012

CONCLUSÕES

Mª Amélia Paiva
12.1.12


Encontro Mundial de Mulheres Migrantes
Maia, 25 e 26 de Novembro de 2011

Algumas palavras em jeito de Síntese

Alguns números dos trabalhos destes dois dias:
Quase 70 intervenções/7 painéis/ 2 mulheres exemplo/modelo e muitas horas de testemunhos/estudos/ cultura /muitas e diversas diásporas.
Nesta moderna e acolhedora cidade da Maia e sob a égide de duas grandes portuguesas do século XX – Maria Lamas e Maria Archer – tivemos o privilégio de poder escutar e aprender com as histórias, testemunhos, reflexões, estudos e análise de tantas e tantos mulheres e homens empenhados(as) em que as contribuições das mulheres migrantes possam ter o espaço e a atenção que merecem.
Foram dois dias de leituras complementares do “terreno” e da “academia”. Dois dias intensos não só pelo grande número de informações, dados e tantos outros saberes mas também pela diversidade das origens, das geografias, das experiências e das várias gerações participantes. Quase que poderíamos afirmar que a matéria que foi apresentada – temas, intervenientes e tantas outras contribuições – poderiam facilmente ter sido objecto de 3 ou mais encontros.
A qualidade e a quantidade das experiências, ideias e também algumas propostas foram, de facto, notáveis. Espero assim que o livro de actas – electrónico ou em papel possa ajudar a sistematizar e a promover todo este enorme manancial de saberes.
Da história das migrações aos tempos e modos de viver a cidadania no feminino no século XXI e, sobretudo com mais mulheres, as intervenções e contributos efectuados ajudaram-nos a perceber o caminho já percorrido com vista à igualdade e paridade mas também o muito que ainda há para percorrer com vista a dar mais visibilidade e voz às mulheres da Diáspora, e das Diásporas.
Não há domínios a excluir – do associativismo à cultura – passando pelas empresárias (habitualmente tão pouco reconhecidas) mas sem esquecer a educação e a política – o papel das mulheres precisa de ser reconhecido, estimulado, divulgado e apoiado, nas nossas comunidades, como no mundo em geral.
Não podemos hoje, como no futuro, desperdiçar a criatividade, o trabalho, enfim os contributos de metade do mundo que fala e sente em português.
As várias intervenções fizeram eco disso mesmo – começando pela Aurora Cunha que, citou a Dra. Manuela Aguiar e bem, ao afirmar que foram as mulheres que geraram as comunidades.
Voluntariado, anonimato, invisibilidade, mobilização, solidariedade, responsabilidade e transmissão do património cultural e linguístico são apenas algumas das expressões que muitas(os) de vós usaram para nos falar das mulheres da Diáspora.

Sumariamente foram também referidas várias outras ideias e propostas:

• Necessidade de mais estudos e dados estatísticos sobre as mulheres migrantes;
• Progressos registados na última década em termos de qualificações e de aumento da visibilidade (também na política);
• Invisibilidade das migrações /défice de conhecimento sobre os(as) portugueses(as) no exterior/crescimento recente do grupo dos que emigram muito jovens, tendo nesse grupo vindo a ganhar expressão a emigração feminina;
• Aumento da emigração no feminino. Mudança do paradigma da emigração feminina nos dias de hoje – mais qualificadas e já não apenas no quadro do reagrupamento familiar – ainda assim as mulheres continuam a ser vítimas de segregação profissional;
• “Gap” geracional e pouca expressão pública das mulheres em comunidades dominadas pelos homens;
• As Mulheres são preservadoras da cultura mas também promotoras da integração e das decisões de não regresso a Portugal; Importância da celebração de acordos culturais;
• Trabalho voluntário das mulheres – vector essencial nas iniciativas sócio-culturais e político-cívicas nas comunidades – agentes de mudança para o aumento da cidadania;
• Defesa de uma maior e mais efectiva ligação às Diásporas;
• Urge aprofundar o debate acerca das duplas pertenças e duplas identidades, potencializar a fazer crescer as redes de pertença – plataformas de ligação e facilitadoras das integrações – lá e cá!;
• Plena maturidade e uma maior visibilidade e reconhecimento no exercício da cidadania ainda está para chegar – as desigualdades, mesmo salariais, têm que ser resolvidas. Podem recuperar-se as 2ªs e 3ªs gerações mas para tal é necessário mudar o paradigma;
• Urge que, nas associações e organizações se mudem as tradicionais formas de divisão de trabalho e também, como alguém defendia, “as comunidades deixem de ser só para os homens”;
• É tempo de fazer sair as mulheres dos espaços das margens – a cultura surge, por vezes, como espaço de marginalização. No entanto, importa realçar que a educação e a cultura, tantas vezes centradas nas mulheres, são espaços de preservação do património;
• A língua e a transmissão do património cultural mas também da promoção de Portugal devem merecer uma aprofundada reflexão estratégica adaptadas às muito diversas realidades locais;
• Urge, como defendi, no contexto de anteriores responsabilidades, feminizar a memória, neste caso, dos contributos das mulheres na construção da história e histórias da Diáspora;
• Da enorme diversidade, riqueza, experiências que, quer do ponto de vista de partidas, quer de chegada são em si tão diferentes pode afirmar-se que o diálogo inter-geracional é essencial e que, nesse diálogo, a promover nas comunidades e com as comunidades portuguesas estejam elas na Diáspora ou em Portugal, as mulheres devem ser chamadas e reconhecidas;
• Urge ainda que Programas de e para as Comunidades integrem sistematicamente a perspectiva de género - e que as iniciativas dêem adequado e devido destaque na sua delineação e concretização às mulheres, combatendo a discriminação e a invisibilidade, nomeadamente através da colocação das mulheres em lugares elegíveis;
• A aplicação dos Planos Nacionais (Igualdade e Violência Doméstica) deve, na sua execução, colocar maior ênfase nas políticas concretas de promoção das mulheres nas comunidades;
• Promover a aprendizagem e as trocas de saberes com as muitas mulheres líderes nas várias idades da sobrevivência, autonomia e crescente liderança;
• Partilha de boas práticas e das mudanças em paridade com os homens. As dificuldades devem ser usadas para crescer;
• Urge aprimorar o Observatório da Emigração e agilizar as redes de contacto nas e entre as comunidades – sites, blogs e congressos;
• Criação de uma Câmara de Comércio dos(as) Empresários(as) Portugueses(as) da Diáspora.

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