quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Durval Marques comunicação


ACADEMIAS DO BACALHAU

  - UM POUCO DA SUA HISTÓRIA – 7

 

Por nos ter sido solicitado, iremos falar-lhes das Academias do Bacalhau, de como começaram e do que representam hoje na diáspora portuguesa.

A ideia de se criar a primeira Academia do Bacalhau, surgiu num jantar oferecido ao jornalista de "O Primeiro de Janeiro" do Porto, Manuel Dias (recentemente falecido), que na altura estava de visita à África do Sul e que teve lugar em Março de 1968.

Além daquele jornalista, estiveram também presentes nesse jantar, o Engº José Ataíde (já falecido e que ao tempo era Administrador-Delegado da Sonarep - África do Sul), Ivo Cordeiro (recentemente falecido e que foi Delegado do ICEP, na África do Sul), Rui Pericão (na altura Quadro Superior da Coca-Cola, África do Sul) e Durval Marques, que fez os convites.

Depois de algumas reuniões entre aqueles quatro amigos, realizou-se então, no dia 10 de Junho desse mesmo ano de 1968, um grande jantar, no Restaurante Chave d' Ouro, após se ter decidido comemorar, e pela primeira vez em Joanesburgo, o Dia de Portugal, inaugurando-se também a Academia do Bacalhau de Joanesburgo, a que hoje se chama de “Academia Mãe”.

Foi seu primeiro Presidente o Engº José Ataíde, que era a pessoa mais idosa daquele grupo de quatro, e que costumava referir-se ao facto de ter sido eleito como Presidente com as seguintes palavras:

- "Na Academia somos todos iguais, pelo que todos somos Presidentes, mas como alguém tem que dirigir os almoços e tocar o badalo, é só nessa acepção que me considero Presidente."

Os badalos, e também as bandeiras, são oferecidas pela Academia Mãe às novas Tertúlias, em cerimónias de abertura, às que normalmente presidem o Presidente da Academia Mãe e o Presidente Honorário das Academias.

Além do badalo e da bandeira, são também símbolos das Academias o emblema e a gravata.

O "Gavião de Penacho" foi importado do "Orfeão Universitário do Porto” e era cantado pelos estudantes, quando, em grupo, davam azo à sua alegria, à sua boa disposição e até a uma certa dose de alguma salutar irreverência.

Escolheu-se o bacalhau como prato das refeições, porque se pretendia estreitar e consolidar uma verdadeira e sã amizade entre todos e o bacalhau, conhecido como o "fiel amigo", representava o símbolo dessa amizade.

Além do bacalhau, o vinho era português, o azeite também e até o pão (papo-seco) era confeccionado por padaria portuguesa.

Decidiu-se pelo tratamento de Compadre, porque era esse o nome que se usava dar ao melhor amigo que se escolhia para ser padrinho dos nossos filhos e, na primeira Academia e nas que se seguiram,  todos eram considerados como melhores amigos.

Os Princípios e Objectivos da Academia Mãe, que passaram a ser sucessivamente adoptados por todas as Academias que se foram criando e que hoje se espalham por países de África, da Europa, das Américas e agora também da Austrália, onde há dois anos foi inaugurada uma Academia em Perth,  são sucintamente os seguintes:

Tertúlias de amigos que, independentemente da posição social e grau de cultura de cada um, se congregam sem finalidades políticas, religiosas, comerciais ou lucrativas, para fomentar, encorajar e desenvolver laços de amizade, cooperação e confraternização entre todos, defendendo o bom nome e prestígio de Portugal e dos portugueses, aonde quer que estejam, bem como os nossos valores histórico-culturais e, fundamentalmente, concretizar acções de solidariedade e de assistência moral e material a pessoas e instituições de beneficência mais carenciadas.     

Nas Academias sempre se prestou assistência, começando-se logo nos seus primeiros tempos de existência, e o dinheiro, quando necessário, aparecia em cima da mesa dos almoços ou jantares, contribuindo cada um com o que quisesse e pudesse.

Entretanto, já com várias Academias a funcionar, começaram a surgir imensos casos a necessitar de apoio, principalmente de compatriotas provenientes de Moçambique e, um pouco mais tarde, de Angola, o que originou a que, no IV Congresso das Academias do Bacalhau, realizado Mbabane - Suazilândia, de 8 a 10 de Novembro de 1974, fosse tomada a decisão de se criar a Sociedade Portuguesa de Beneficência da África do Sul (SPB), que começou a funcionar em 1975, embora só fosse oficialmente registada em 13/03/79.

A sua primeira sede ficou instalada mesmo ao lado do Restaurante Chave d'Ouro, onde se reunia a Academia Mãe, e localizava-se no 1.º Andar do Camperdown Building, na esquina da Pol1y & Kerk Streets, em Joanesburgo.

A SPB está actualmente instalada em amplas instalações próprias, em Albertskroon, Joanesburgo, onde funciona também o lar da terceira idade (Lar de Santa Isabel).

 Foi assim que nasceu, em Joanesburgo, este nosso movimento das Academias do Bacalhau, que é hoje constituído por 54 Tertúlias espalhadas pelos quatro cantos do mundo e todas elas ligadas pelos mesmos princípios de: amizade, portugalidade e solidariedade.

Todas apoiam uma ou mais obras de beneficência. Em Maputo, por exemplo, patrocinam a Casa do Gaiato, tendo ajudado a construir o edifício das oficinas e também a capela; em Luanda, dão apoio a um lar da terceira idade e a uma instituição de meninos da rua; em Caracas, construíram uma casa para idosos, onde se gastaram cerca de 5 milhões de dólares; em Joanesburgo criou-se o lar para a terceira idade (Lar de Santa Isabel), que é uma das melhores instituições para idosos da África do Sul e que mereceu as seguintes palavras da Senhora Dr.ª Maria Barroso, quando ela teve a gentileza de o visitar, numa das suas viagens à África do Sul: “este lar é muito confortável, airoso e os seus utentes devem sentir-se aqui muito felizes; nota-se nele qualquer coisa de muito especial, que é o calor humano que nele se sente e que o faz diferente dos outros lares que tenho visitado.”    

Realizam-se todos os anos Congressos das Academias do Bacalhau, em sistema rotativo por Continentes e por ordem de antiguidade das Tertúlias, o último dos quais teve lugar em Maputo (o XLI), em 14, 15 e 16 de Setembro de 2012, e o deste ano (o XLII), efectuou-se  em Viseu, de 27 a 29 de Setembro.

Quando há 45 anos se criou a primeira Academia (a Academia Mãe, em Joanesburgo), os almoços eram mais frequentados por homens, porque a maioria dos seus membros trabalhava na cidade e era difícil, por razão das distâncias, que a eles se pudessem juntar as Comadres, na sua maior parte domésticas, e que passavam portanto grande parte do tempo nas lides da casa. No entanto, elas marcaram sempre presença nos jantares, que geralmente incluíam uma ou outra atracção (conjuntos musicais para dançar, cantores, fadistas, grupos folclóricos, etc.) e cujas festas se prolongavam até à madrugada.

Mesmo assim, durante esse período, estiveram presentes a almoços algumas distintas e queridas Senhoras, a quem foram entregues Diplomas de Comadres e das quais destacamos: Amália Rodrigues (foi a primeira Senhora a receber um Diploma da Academia do Bacalhau), Dr.ª Manuela Aguiar (Secretária de Estado da Imigração) e Dr.ª Vera Lagoa (Jornalista).


 
 
Hoje,  45 anos depois da fundação deste movimento de Amizade e Bem-Fazer, as nossas Academias do Bacalhau espalhadas pelo mundo, que devem seguramente constituir a maior organização da nossa diáspora, estão abertas, em pé de igualdade, a Comadres e Compadres, havendo até já quatro Comadres a ocupar o lugar de Presidente das respectivas Academias, como são os casos das Tertúlias de Toronto, Nova Inglaterra, Brasília e Niteroi.

Depois das oficializações, este ano, das Academias do Bacalhau de Rouen (França), em 13 de Junho, e da de Bruxelas (Bélgica), em 19 de Setembro, temos actualmente 54 Academias e, em Março do próximo ano, com a abertura da de Londres, seremos 55

As Academias do Bacalhau estão assim distribuídas:

- África      16

- Europa     20

- Américas 17

- Austrália  01

                          - TOTAL   54.

Como referido anteriormente, têm-se realizado Congressos Mundiais das Academias, que começaram em Joanesburgo, de 1 a 3 de Novembro de 1971, e que chegaram até ao deste ano, exceptuando-se apenas o de 1975 que, por razões várias, não chegou a realizar-se.   

Em relação ao Congresso deste ano, o XLII.º, que teve lugar em Viseu, ele constituiu o Congresso mais participado de sempre, contando com a presença de Compadres e Comadres de 44 Tertúlias e culminando com a presença de 650 pessoas, no jantar de gala. Foi a Venezuela que trouxe mais congressistas a Viseu, 125 Compadres e Comadres, seguindo-se Paris com 80, os Estados Unidos com 60, África do Sul com 50, Canadá com 40, Moçambique e Angola com 15 cada, Bélgica e Luxemburgo com 10 cada. A nível das Academias de Portugal, a da Costa do Estoril esteve representada com 26 Comadres e Compadres, a da Terceira (Açores) com 25, Funchal com 12, a de Lisboa com 10, a do Ribatejo (aprovada nesse Congresso) com 6, a de S. Miguel (Açores) com 5, a de Setúbal com 3, contando-se na vizinhança de 80, os elementos da Academia anfitriã.      

Falemos agora da Solidariedade, que constitui a razão principal da nossa existência. Todas as Academias, sem excepção, apoiam pessoas ou instituições de beneficência e, apenas como exemplos, parece-nos ter cabimento referir aqui o seguinte:

- Na acta do Congresso do Maputo, o XLIº, que teve lugar de 14 a 16 de Setembro do ano passado, é referido o seguinte: “…Um dos momentos mais altos da despedida que, segundo muitos, constituiu o verdadeiro Congresso, foi quando o Compadre Padre Zé Maria, da Casa do Gaiato de Moçambique, subiu ao palco e, após um discurso comovente, fez saltar das mesas os Compadres e Comadres das várias Academias que, espontaneamente, e começando pelo Presidente da Academia de Paris, António Fernandes, contribuíram, na hora, para essa obra, com um total de € 12.000,00, para além de outros leilões, que também se realizaram no local…”        

- No Congresso deste ano, em Viseu, foi também concedido um subsídio de € 6.000,00 pela Academia de Caracas à Casa do Gaiato.

- A 18 de Outubro passado, a Academia do Bacalhau de Paris organizou um grande jantar na sala Vasco da Gama, com o objectivo específico de se angariar o máximo de fundos para ajudar o jovem português Tiago Sobreira, que padece de doença de foro oncológico e que precisa de tratamentos apenas praticados na Alemanha. Angariaram-se € 15.000,00 que foram entregues à família do Tiago.

- De referir ainda o apoio dado pela Academia de Paris a uma jovem portuguesa gravemente doente e que tinha o sonho de ir a Paris, o que lhe foi concretizado por esta Academia.

Estes foram alguns dos casos assistidos por estas Academias, mas muitos mais poderiam ser aqui referidos, já que todas as Academias estão a apoiar pessoas, obras ou organizações necessitadas de ajuda. 

A finalizar, parece-nos dever aqui reiterar que as Comadres das Academias do Bacalhau, desde que uem as suas quotas e sejam aceites pelas respectivas Tertúlias (como acontece de resto com os Compadres) têm os mesmíssimos direitos e obrigações dos Compadres, nada as impedindo de chegarem até a ser Presidentes que, como se referiu, acontece já em relação a quatro Academias. 

Foi um grato prazer podermos participar no Encontro Mundial Mulheres da Diáspora, em 24 e 25 deste mês e aproveitamos para saudar a todos com amizade e dar os Parabéns pela passagem do vosso 20.º Aniversário.

 

Durval Marques

Outubro de 2013

Sem comentários:

Enviar um comentário