sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Deputado Paulo Pisco


ENCONTRO MUNDIAL

 MULHERES DA DIÁSPORA

EXPRESSÕES FEMININAS DA CIDADANIA

 NOVAS FORMAS DE ASSOCIATIVISMO

 Deputado Paulo Pisco

Lisboa 2013

                                              

 1.   Começo por agradecer à Drª. Manuela Aguiar pelo amável convite que me fez e saudar a presença da Drª Maria Barroso, bem como todos os que aqui estão presentes.

2.   Em Novembro de 2011 tive o prazer de participar num encontro deste tipo e o tema que me foi proposto foi a “A NOVA EMIGRAÇÃO FEMININA – RELAÇÃO TRANSNACIONAL E MUDANÇA” . Agora o tema proposto é “NOVAS FORMAS DE ASSOCIATIVISMO”.

3.   Tudo o que é novo comporta a dificuldade de não ser ainda suficientemente conhecido, mas contém também o aliciante de proporcionar reflecções mais estimulantes.

4.   Começaria por dizer que os enormes fluxos migratórios dos últimos anos conjugados com novas gerações nascidas nos países de acolhimento, mais tarde ou mais cedo, trariam necessariamente novas formas de associativismo, com uma natureza e perfil diferentes do associativismo tradicional.

5.   Da mesma forma que nos últimos anos temos ouvido falar muito das dificuldades do movimento associativo, sobretudo da renovação das direções e da incapacidade de atrair jovens, hoje também ouvimos falar de novas formas associativismo. E elas existem de facto, embora não sejam ainda suficientemente conhecidas, precisamente por serem novas.

6.   Julgo que poderemos dizer que haverá alguma confluência de interesses e preocupações nas novas gerações nascidas nos Países de acolhimento e da nova emigração. Têm ambos numa mentalidade diferente e mais aberta, têm mais informação têm outros níveis de formação e, portanto, têm necessariamente outros interesses. O Mundo de hoje é radicalmente diferente do Mundo que existia nos anos 60, do pós-guerra, e do Portugal pré-europeu, pobre e sem escolaridade.

7.   De qualquer forma, sejam recentes ou antigas, e as associações serão sempre um lugar de encontro da comunidade e de reforço da sua coesão. Serão sempre um lugar onde se pratica a entreajuda e a partilha de informações que possibilitam um melhor conhecimento, identificação de oportunidades e integração nos países de acolhimento. Tanto umas como outras, serão hoje também lugares importantes de solidariedade, onde se acolhem os emigrantes recém-chegados.

8.   Assim, como estes novos contextos e circunstâncias, os novos fluxos migratórios acabam também por obrigar muitos associados a transformarem-se, a reinventarem-se e a adaptarem-se às expectativas que existem relativamente a elas. Portanto, em tempos de aumento dos fluxos migratórios, as associações continuam a desempenhar um papel de grande importância, que deve ser valorizado.

9.   Quando hoje falamos em novas formas de associativismo, falamos de novas estruturas organizadas, novos motivos de interesse e de novas atitudes.

10.               Na organização e nas direções vemos muito mais mulheres e muitos mais jovens e pessoas dos países de acolhimento, o que transforma logo o perfil das associações. Surgem assim motivos de interesse diferentes, que não estão centrados nas tradicionais atividades do folclore, do futebol e da gastronomia. Apresentam programas com uma maior diversidade cultural, a dimensão cultural dos países do universo da Lusofonia está cada vez mais presente, preocupam-se mais em fazer pontes com as instituições nos países de acolhimento.

11.               E isto representa não apenas um importante salto qualitativo para as atividades e as dinâmicas das nossas comunidades, mas também para a valorização da imagem e da perceção que as sociedades de acolhimento têm da nossa comunidade.

12.               Neste contexto, sou muito favorável a que as associações e as suas direções integrem também cidadãos dos países de acolhimento porque isso representa uma abertura que só valoriza as nossas comunidades.

13.               Por todas estas razões, e, por maioria de razão, sobretudo na Europa, as associações deveriam estar menos associadas a lugares de emigrantes, e serem valorizadas como verdadeiras CASAS DE CIDADANIA. E queria sublinhar esta noção, porque, na realidade muitas associações é mesmo isso que são, são CASAS DE CIDADANIA, como o demonstram e comprovam as suas atividades.

14.               E isto é mais facilmente demonstrável se fizermos o paralelismo entre as atividades de muitas destas CASAS DE CIDADANIA e os valores que estruturam a cidadania europeia desde a entrada em vigor do Tratado de Maastrich, em 1993.

15.               Com efeito, muitas destas nossas CASAS DE CIDADANIA têm atividades que promovem a salvaguarda da diversidade cultural, fomentam o ensino da Língua, promovem a participação cívica, dão apoio social, preocupam-se com a igualdade de oportunidades e a integração nas sociedades de acolhimento.

16.               E estas e outras atividades similares vão totalmente ao encontro dos esforços que a União Europeia faz para promover a cidadania e, muito certamente, estão até em melhores condições para o fazer que muitas entidades que chegam a muito menos gente e absorvem muito mais recursos financeiros.

17.               Portanto, as associações que encaixam neste perfil, e são muitos, só têm de ser reconhecidas e valorizadas como casas de cidadania apoiadas em função de relevância das suas atividades.

18.               Faz todo o sentido, por isso, que este movimento associativo na União Europeia ganhe uma dimensão verdadeiramente europeia.

19.               Sublinhe-se, por exemplo, que existem na União europeia programas específicos para a promoção dos direitos fundamentais e a cidadania. Inclusivamente, a Comissão Europeia propôs em Maio passado 12 novas ações para reforçar os direitos dos cidadãos, que vão totalmente ao encontro daquilo que muitas associações já hoje fazem.

20.               Basta ver, por exemplo, o papel que muitas associações portuguesas em França estão a ter no âmbito da promoção da inscrição eleitoral e da participação nas eleições autárquicas e europeias em Março e Maio do próximo ano.

21.               Para que seja possível a obtenção deste reconhecimento para as nossas associações é fundamental que se desenvolva uma ação de lobby por parte do Governo (mas também por parte de outros agentes políticos) em duas frentes: Por um lado, o Governo tem de se bater em Bruxelas para que os programas comunitários existentes ou a criar dirigidos à promoção da cidadania possa adaptar-se a esta realidade tão importante no processo de construção da identidade europeia.

Por outro lado, é fundamental que, com o mesmo objetivo, os deputados portugueses e de outros países no Parlamento Europeu façam lobby junto da Comissão Europeia e do Conselho de Ministros destas áreas setoriais.

22. Dito isto, e para terminar, gostaria de deixar mais algumas notas, agora dirigidas ao Governo:

1º. Para além da realização de iniciativas avulsas, que obviamente também têm a sua importância, é fundamental que o Governo se assuma como orientador de uma valorização do movimento associativo, construindo uma estratégia sólida, que agora considero que não existe.

2º. Que seja atribuída uma verba fixa e adequada proveniente das receitas consulares para que a estratégia definida possa ser concretizada.

3º. Que sejam adequadamente valorizadas as formas de associativismo inovadoras que encaixam no tipo de atividades levadas a cabo nas CASAS DE CIDADANIA, bem como as associações que dentro do mesmo espírito vão ser criadas.

4º. Que sejam adequadamente apoiadas as confederações de associações em cada país, devido à sua reconhecida capacidade para reunir associações e trocar experiências, e realizar iniciativas com maior valor para a comunidade em geral.

5º. Finalmente, uma vez que o Governo reconhece que os novos emigrantes recorrem cada vez mais às associações porque os postos consulares têm cada vez menos capacidade de resposta, sobretudo devido ao aumento da emigração e à diminuição drástica dos funcionários consulares, que sejam obrigatoriamente apoiadas em função do serviço de cidadania e solidariedade que prestam.

Muito obrigado

 

 

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