domingo, 10 de novembro de 2013

Mia Vieira-Azar Comunicação



 Les Amis du Portugal-Liban, association à but non lucratif et apolitique, a pour vocation de contribuer

 à l’essor des relations culturelles entre le Liban et le Portugal

 

 Lisboa, 24 - 25  de outubro de 2013

Encontro Mundial da Mulher Migrante

 

Em nome da associação “Amigos de Portugal-Libano”, quero agradecer o amàvel convite que nos  foi dirigido para participar neste evento. Nos ter  integrado nesta iniciativa ùnica, é para nòs um motivo de orgulho. Oportunidade esta que me alegra, não sò conhecer as diferentes realidades e experiências das Mulheres da Diàspora, conscientes do papel observador, sensivel e humano que desempenham na vasta rede da emigração portuguesa mas, também, o seu papel mediador indispensàvel no diàlogo das culturas.

Sou do Sul e venho do Sul, de um pequeno pais que sempre esteve envolvido na tumultuosa historia do Médio Oriente.

O Libano, é uma encruzilhada das mais antigas civilizações do mundo, o seu nome apareceu nos textos mais antigos, suméricos, babilonicos, egipcios, biblicos...Um pais àrabe do Oriente Pròximo, situado na junção de três continentes, Asia, Africa e a Europa. Aberto ao mar Mediterraneo, uma ponte entre o Oriente e o Ocidente. Acolhe em seu territorio inùmeras  culturas. Não é possivel falar do Libano sem nos referirmos aos Fenicios “povo do mar”. A época chamada “fenicia” momento em que apareceram inscrições em lingua fenicia (a escrita alfabética linear) adotada pelos gregos e que passou a ser a base da maioria dos alfabetos usados actualmente no mundo.

Se abrimos o Baù da Historia portuguesa, là encontramos os fenicios que, em 1200 anos, antes de Cristo, fundaram Lisboa. Deram-lhe o nome de  “Alis Ubbo” que significa em lingua fenicia “porto seguro” e ao seu rio, Taghi que significa “Boa Pesca”.  Estes habitantes do pais de Canaan, viviam em cidades-estado, autònomas, sendo as mais importantes, as cidades libanesas de Tiro, Saida e Biblos. Eles percorreram o mundo antigo favorizando intercâmbios,  não somente de seus  produtos, mas também tornando-se cèlebres pelos intercâmbios culturais.

Libaneses e portugueses, dois povos  fundamentalmente ligados pela mesma vocação maritima. Dois povos que  possuiem em suas veias os elementos da odisséia, da epopéia, viveram historias fantàsticas, marcadas de aventuras  e de heroismos.  Uma identidade quase mitica.

No século XII produziu-se um encontro marcante entre libaneses e portugueses, na época em que as cidades do litoral libanês faziam parte do Reino Latino do Oriente. (periodo das Cruzadas) Segundo o grande historiador português José Barbosa de Figueiredo Castelo Branco,  Portugal tinha iniciado  relações com os cristãos da Siria-Libano e que fortaleceu ainda mais estas relações, quando Dom Henrique e Gualdin Paes estiveram no Libano (referência in Historia e Memoria da Real Academia de Ciencias de Lisboa, este documento foi lido na sessão de 27 de outubro de 1853)   Nesta época numerosos libaneses emigraram  para Portugal levando com eles vastos conhecimentos maritimos, nomeadamente na construção de navios, o uso do astrolàbio, confecções de cartas naùticas ...que  vieram aprofundar ainda mais o conhecimento dos portugueses na matéria. Igualmente  participando nas Grandes Descobertas dos séculos XV e XVI.... Alguns documentos portugueses referem-se  a esta presença, como companheiros de viagem, “os amigos cristãos do Oriente”.

Mais recentemente, houve um novo movimento migratòrio que os luso-libaneses gostam de sublinhar. Em 1919, algumas familias instalaram-se no arquipélago da ilha da Madeira e ali contribuiram à expansão do comércio maritimo entre Portugal e a América do Sul, em particular, o comércio dos “bordados da Madeira” exportados em grandes quantidades... Como exemplo, as fàbricas Farra (uma das mais antigas) Jebara e Gouveia que ainda existem hoje.

Durante os anos 70 o Libano atingiu o seu apogeu economico, Beirute tornou-se também a capital da cultura onde a atividade literària e artistica tiveram seus dias de gloria. Infelizmente em 1975, o pais abriu mais uma pàgina dramàtica da sua historia, a  << guerra civil >> que durarà 30 anos. Uma guerra que destruiu o pais quase por completo.   

Quando cheguei ao Libano em 1998, o pais encontrava-se de novo em plena expansão, em plena reconstrução, vivia então  uma nova “era” de vitalidade, de progresso vertiginoso.  Muitos emigrantes libaneses espalhados pelo mundo regressavam ao pais, empresas estrangeiras de prestigio instalavam-se neste novo Eldorado.

Como  qualquer outro ocidental, bem informado e de pés bem firmados na realidade, não precisei de periodo de adaptação no pais do Cedro, a sua inconfundivel hospitalidade levantina é legendaria e, para quem se enriquece  de leituras e relatos, compreende melhor o fenomeno “orientalista”... que durante os seculos dezoito e dezanove, seduziu grande parte dos ocidentais devido ao  sucesso das missões cientificas na Fenicia.  

Paradoxalmente no vasto campo das migrações portuguesas, o Libano não é um recanto do mundo onde os portugueses procuram dias melhores. Este facto explica o sentimento que tive durante muitos anos de me encontrar isolada no Libano. Não hà conhecimento de emigração colectiva, apenas alguma emigração individual isolada com o simples recurso da sua força e da sua vontade. Contudo, ultimamente, é de salientar a presença de alguns portugueses expatriados, cuja estadia se limita a um ou dois anos.

Em 2008, houve um encontro bem sucedido, o Encarregado de Negocios de Portugal em Chipre o Dr. Mario Martins, em visita ao Libano que, com toda a sua solicitude, reuniu parte da comunidade. Surpreendeu-nos! Este encontro “historico” teve um grande impacto! Surgiu naturalmente, o sentimento de saudade e um desejo vital de “ligação à familia”..A consciência de ser português !

Nesse mesmo dia, foi levantada a questão de fundar uma associação que seja uma referência para a comunidade. Isto traduziu-se na discussão de idéias de no traçar de metas para um trabalho futuro. Esta vocação foi-se afirmando e, finalmente no dia 10 de junho 2008, dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, teve lugar a primeiro encontro, em Beirute,  em presença do Sr. André Boulos, Consul Honoràrio de Portugal no Libano.

Fazem parte desta comunidade, portugueses e luso-libaneses (em numero de 150, segundo a informação  transmitida pela Embaixada de Portugal em Nicosia)  familias ou individuos que regressaram recentemente ao Libano por razões diversas. Mas também houve algumas migrações no sentido de Portugal para o Libano, como ilustra o exemplo de presença portuguesa, na serra do Chouf a sul de Beirute, na bonita aldeia de Gharifé. Nesta localidade vive uma acolhedora comunidade, constituida essencialmente de portugueses e  luso-descendentes, que vivem uma herança cultural, falando com nostalgia da educação que receberam “à portuguesa”, incluindo canções populares, receitas culinàrias, entre outros bons costumes que nos são comuns.

Neste contexto, como promover Portugal, valorizar a identidade da comunidade portuguesa, manter viva a chama lusitana ?  

Em termos culturais encontramos formas de pôr termo ao nosso isolamente, criando parcerias e intercâmbios com o pais de acolhimento. Gostaria de citar aqui alguns dos principais objetivos da Associação Amigos de Portugal-Libano :

- Se reunir com regularidade, partilhar esta nova forma de coexistência, cultivar a amizade e a solidariedade.

- Preservação da memoria, e ensino do português

- Criar espaços dedicados à cultura

- Desenvolver parcerias junto de Universidades, Centros Culturais, Museus, Galerias, “Workshops” e outras actividades vocacionadas para divertimento. 

- Projecção de filmes portugueses, nos centros culturais, e participação nos seguintes festivais : Semana Arte, Ibero-Americano, Europeu..

- Intercâmbio cultural, abrir novos horizontes com mais ampla divulgação da cultura libanesa em Portugal e  apreço pelo seu relevante interesse historico.

- Visibilidade na Imprensa libanesa

 

Exemplo de Conferências:  

- Historia da Mùsica portuguesa

- Lisboa de Fernando Pessoa

- Fortalezas portuguesas do Oriente

- Calçadas portuguesas

- Homenagem a Camões, leitura bilingue dos Lusiadas

- Historia dos tapetes de Arraiolos, e tapetes orientais chamados “portugueses”

- Leitura  bilingue “As Naus” de Lobo Antunes (no quadro do Salão do Livro de 2013, em parceria com a recentemente lançada, La Maison Internationale des Ecrivains à Beyrouth)

Em perspective para 2014

- Barroco em Portugal e no Brasil

- A Odisseia do Vinho do Porto  

 Nas nossas palestras não temos uma linha estritamente académica, uma vez que a instituição està de acordo e avalia a qualidade do nosso trabalho.

E, porque queremos sempre  continuar a evoluir, pretendemos antes de mais, ser uma comunidade vivendo na plenitude das suas escolhas, procurando soluções que sejam uma resposta à sua situação excepcional e, definitivamente, um mensageiro da verdadeira dimensão cultural portuguesa neste espaço do Levante.

Mia Vieira-Azar, presidente da Associação  “ Les Amis du Portugal-Liban”

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