ACADEMIAS DO BACALHAU
- UM POUCO DA SUA HISTÓRIA – 7
Por nos ter
sido solicitado, iremos falar-lhes das Academias do Bacalhau, de como começaram
e do que representam hoje na diáspora portuguesa.
A ideia de se
criar a primeira Academia do Bacalhau, surgiu num jantar oferecido ao
jornalista de "O Primeiro de Janeiro" do Porto, Manuel Dias
(recentemente falecido), que na altura estava de visita à África do Sul e que
teve lugar em Março de 1968.
Além daquele
jornalista, estiveram também presentes nesse jantar, o Engº José Ataíde (já
falecido e que ao tempo era Administrador-Delegado da Sonarep - África do Sul),
Ivo Cordeiro (recentemente falecido e que foi Delegado do ICEP, na África do Sul),
Rui Pericão (na altura Quadro Superior da Coca-Cola, África do Sul) e Durval
Marques, que fez os convites.
Depois de algumas
reuniões entre aqueles quatro amigos, realizou-se então, no dia 10 de Junho
desse mesmo ano de 1968, um grande jantar, no Restaurante Chave d' Ouro, após
se ter decidido comemorar, e pela primeira vez em Joanesburgo, o Dia de
Portugal, inaugurando-se também a Academia do Bacalhau de Joanesburgo, a que hoje
se chama de “Academia Mãe”.
Foi seu primeiro
Presidente o Engº José Ataíde, que era a pessoa mais idosa daquele grupo de
quatro, e que costumava referir-se ao facto de ter sido eleito como Presidente
com as seguintes palavras:
- "Na
Academia somos todos iguais, pelo que todos somos Presidentes, mas como alguém
tem que dirigir os almoços e tocar o badalo, é só nessa acepção que me
considero Presidente."
Os badalos, e
também as bandeiras, são oferecidas pela Academia Mãe às novas Tertúlias, em
cerimónias de abertura, às que normalmente presidem o Presidente da Academia
Mãe e o Presidente Honorário das Academias.
Além do badalo e da bandeira, são também
símbolos das Academias o emblema e a gravata.
O
"Gavião de Penacho" foi importado do "Orfeão Universitário do
Porto” e era cantado pelos estudantes, quando, em grupo, davam azo à sua
alegria, à sua boa disposição e até a uma certa dose de alguma salutar
irreverência.
Escolheu-se o
bacalhau como prato das refeições, porque se pretendia estreitar e consolidar
uma verdadeira e sã amizade entre todos e o bacalhau, conhecido como o "fiel
amigo", representava o símbolo dessa amizade.
Além do bacalhau, o vinho era português, o
azeite também e até o pão (papo-seco) era confeccionado por padaria portuguesa.
Decidiu-se
pelo tratamento de Compadre, porque era esse o nome que se usava dar ao melhor
amigo que se escolhia para ser padrinho dos nossos filhos e, na primeira Academia
e nas que se seguiram, todos eram
considerados como melhores amigos.
Os Princípios
e Objectivos da Academia Mãe, que passaram a ser sucessivamente adoptados por
todas as Academias que se foram criando e que hoje se espalham por países de
África, da Europa, das Américas e agora também da Austrália, onde há dois anos
foi inaugurada uma Academia em Perth, são
sucintamente os seguintes:
Tertúlias de amigos que, independentemente da posição
social e grau de cultura de cada um, se congregam sem finalidades políticas,
religiosas, comerciais ou lucrativas, para fomentar, encorajar e desenvolver
laços de amizade, cooperação e confraternização entre todos, defendendo o bom
nome e prestígio de Portugal e dos portugueses, aonde quer que estejam, bem como
os nossos valores histórico-culturais e, fundamentalmente, concretizar acções
de solidariedade e de assistência moral e material a pessoas e instituições de
beneficência mais carenciadas.
Nas Academias sempre
se prestou assistência, começando-se logo nos seus primeiros tempos de
existência, e o dinheiro, quando necessário, aparecia em cima da mesa dos
almoços ou jantares, contribuindo cada um com o que quisesse e pudesse.
Entretanto, já
com várias Academias a funcionar, começaram a surgir imensos casos a necessitar
de apoio, principalmente de compatriotas provenientes de Moçambique e, um pouco
mais tarde, de Angola, o que originou a que, no IV Congresso das Academias do
Bacalhau, realizado Mbabane - Suazilândia, de 8 a 10 de Novembro de 1974,
fosse tomada a decisão de se criar a Sociedade Portuguesa de Beneficência da
África do Sul (SPB), que começou a funcionar em 1975, embora só fosse
oficialmente registada em 13/03/79.
A sua primeira
sede ficou instalada mesmo ao lado do Restaurante Chave d'Ouro, onde se reunia a
Academia Mãe, e localizava-se no 1.º Andar do Camperdown Building, na esquina
da Pol1y & Kerk Streets, em Joanesburgo.
A SPB está actualmente
instalada em amplas instalações próprias, em Albertskroon, Joanesburgo, onde
funciona também o lar da terceira idade (Lar de Santa Isabel).
Foi assim que nasceu, em Joanesburgo, este
nosso movimento das Academias do Bacalhau, que é hoje constituído por 54
Tertúlias espalhadas pelos quatro cantos do mundo e todas elas ligadas pelos
mesmos princípios de: amizade,
portugalidade e solidariedade.
Todas apoiam
uma ou mais obras de beneficência. Em Maputo, por exemplo, patrocinam a Casa do
Gaiato, tendo ajudado a construir o edifício das oficinas e também a capela; em
Luanda, dão apoio a um lar da terceira idade e a uma instituição de meninos da
rua; em Caracas, construíram uma casa para idosos, onde se gastaram cerca de 5
milhões de dólares; em Joanesburgo criou-se o lar para a terceira idade (Lar de
Santa Isabel), que é uma das melhores instituições para idosos da África do Sul
e que mereceu as seguintes palavras da Senhora Dr.ª Maria Barroso, quando ela
teve a gentileza de o visitar, numa das suas viagens à África do Sul: “este lar é muito confortável, airoso e os seus utentes devem sentir-se aqui muito
felizes; nota-se nele qualquer coisa de muito especial, que é o calor humano
que nele se sente e que o faz diferente dos outros lares que tenho
visitado.”
Realizam-se
todos os anos Congressos das Academias do Bacalhau, em sistema rotativo por
Continentes e por ordem de antiguidade das Tertúlias, o último dos quais teve
lugar em Maputo (o XLI), em 14, 15 e 16 de Setembro de 2012, e o deste ano (o
XLII), efectuou-se em Viseu, de 27 a 29 de Setembro.
Quando há 45
anos se criou a primeira Academia (a Academia Mãe, em Joanesburgo), os almoços
eram mais frequentados por homens, porque a maioria dos seus membros trabalhava
na cidade e era difícil, por razão das distâncias, que a eles se pudessem
juntar as Comadres, na sua maior parte domésticas, e que passavam portanto
grande parte do tempo nas lides da casa. No entanto, elas marcaram sempre
presença nos jantares, que geralmente incluíam uma ou outra atracção (conjuntos
musicais para dançar, cantores, fadistas, grupos folclóricos, etc.) e cujas
festas se prolongavam até à madrugada.
Mesmo assim, durante
esse período, estiveram presentes a almoços algumas distintas e queridas
Senhoras, a quem foram entregues Diplomas de Comadres e das quais destacamos:
Amália Rodrigues (foi a primeira Senhora a receber um Diploma da Academia do
Bacalhau), Dr.ª Manuela Aguiar (Secretária de Estado da Imigração) e Dr.ª Vera
Lagoa (Jornalista).
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Hoje, 45 anos depois da fundação deste movimento de
Amizade e Bem-Fazer, as nossas Academias
do Bacalhau espalhadas pelo mundo, que devem seguramente constituir a maior organização
da nossa diáspora, estão abertas, em pé de igualdade, a Comadres e Compadres,
havendo até já quatro Comadres a ocupar o lugar de Presidente das respectivas
Academias, como são os casos das Tertúlias de Toronto, Nova Inglaterra, Brasília
e Niteroi.
Depois das
oficializações, este ano, das Academias do Bacalhau de Rouen (França), em 13 de
Junho, e da de Bruxelas (Bélgica), em 19 de Setembro, temos actualmente 54
Academias e, em Março do próximo ano, com a abertura da de Londres, seremos 55
As Academias do
Bacalhau estão assim distribuídas:
- África 16
- Europa
20
- Américas 17
- Austrália 01
- TOTAL
54.
Como referido anteriormente, têm-se realizado Congressos
Mundiais das Academias, que começaram em Joanesburgo, de 1 a 3 de Novembro de
1971, e que chegaram até ao deste ano, exceptuando-se apenas o de 1975 que, por
razões várias, não chegou a realizar-se.
Em relação ao Congresso deste ano, o XLII.º, que teve
lugar em Viseu, ele constituiu o Congresso mais participado de sempre, contando
com a presença de Compadres e Comadres de 44 Tertúlias e culminando com a
presença de 650 pessoas, no jantar de gala. Foi a Venezuela que trouxe mais
congressistas a Viseu, 125 Compadres e Comadres, seguindo-se Paris com 80, os
Estados Unidos com 60, África do Sul com 50, Canadá com 40, Moçambique e Angola
com 15 cada, Bélgica e Luxemburgo com 10 cada. A nível das Academias de
Portugal, a da Costa do Estoril esteve representada com 26 Comadres e
Compadres, a da Terceira (Açores) com 25, Funchal com 12, a de Lisboa com 10, a
do Ribatejo (aprovada nesse Congresso) com 6, a de S. Miguel (Açores) com 5, a
de Setúbal com 3, contando-se na vizinhança de 80, os elementos da Academia
anfitriã.
Falemos agora da Solidariedade, que constitui a razão
principal da nossa existência. Todas as Academias, sem excepção, apoiam pessoas
ou instituições de beneficência e, apenas como exemplos, parece-nos ter
cabimento referir aqui o seguinte:
- Na acta do Congresso do Maputo, o XLIº, que teve lugar
de 14 a 16 de Setembro do ano passado, é referido o seguinte: “…Um dos momentos
mais altos da despedida que, segundo muitos, constituiu o verdadeiro Congresso,
foi quando o Compadre Padre Zé Maria, da Casa do Gaiato de Moçambique, subiu ao
palco e, após um discurso comovente, fez saltar das mesas os Compadres e
Comadres das várias Academias que, espontaneamente, e começando pelo Presidente
da Academia de Paris, António Fernandes, contribuíram, na hora, para essa obra,
com um total de € 12.000,00, para além de outros leilões, que também se
realizaram no local…”
- No Congresso deste ano, em Viseu, foi também concedido
um subsídio de € 6.000,00 pela Academia de Caracas à Casa do Gaiato.
- A 18 de
Outubro passado, a Academia do Bacalhau de Paris organizou um grande jantar na
sala Vasco da Gama, com o objectivo específico de se angariar o máximo de
fundos para ajudar o jovem português Tiago Sobreira, que padece de doença de
foro oncológico e que precisa de tratamentos apenas praticados na Alemanha. Angariaram-se
€ 15.000,00 que foram entregues à família do Tiago.
- De referir
ainda o apoio dado pela Academia de Paris a uma jovem portuguesa gravemente
doente e que tinha o sonho de ir a Paris, o que lhe foi concretizado por esta
Academia.
Estes foram alguns
dos casos assistidos por estas Academias, mas muitos mais poderiam ser aqui referidos,
já que todas as Academias estão a apoiar pessoas, obras ou organizações
necessitadas de ajuda.
A finalizar,
parece-nos dever aqui reiterar que as Comadres das Academias do Bacalhau, desde
que uem as suas quotas e sejam aceites pelas respectivas Tertúlias (como
acontece de resto com os Compadres) têm os mesmíssimos direitos e obrigações
dos Compadres, nada as impedindo de chegarem até a ser Presidentes que, como se
referiu, acontece já em relação a quatro Academias.
Foi um grato
prazer podermos participar no Encontro Mundial Mulheres da Diáspora, em 24 e 25 deste mês e aproveitamos para
saudar a todos com amizade e dar os Parabéns pela passagem do vosso 20.º
Aniversário.
Durval Marques
Outubro de
2013
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