MARIA BARROSO
O que
acrescentar?
Por Leonor Xavier
Quase vinte anos depois do primeiro encontro, em que
me perguntou se eu seria sua biógrafa, é-me difícil fazer uma reflexão objetiva
sobre a vida, o mérito, o percurso da mulher notável que é Maria Barroso. Tenho
acompanhado os elogios que lhe são feitos, os louvores, os discursos formais
sobre a sua personalidade.
O que acrescentar que não se saiba ou não tenha sido
dito? Talvez sejam menos conhecidos os seus concretos gestos de atenção aos
outros, mais ainda aos mais simples, aos anónimos cidadãos que chegam perto, a
dar-lhe uma palavra, a ouvir-lhe a voz. Ou os seus rituais de feminilidade, o
cuidado com a maneira de vestir, o pequeno enfeite que combine com uma
determinada circunstância, a saudade tantas vezes falada da casa dos pais, das
brincadeiras com os irmãos. O orgulho com que olha a sua trajetória. O discurso
amoroso constante, sempre que fala do seu amor.
Ao longo do tempo, com ela tenho experimentado o
doce plano da cumplicidade, da admiração, da ternura. Sempre tudo temperado com
um riso, ou um desabafo, ou uma conversa sobre o que vai acontecendo neste
mundo.
Entre os meus vários escritos sobre Maria Barroso,
encontro este, de 2003, um texto de abertura para a grande entrevista que então
lhe fiz e que foi publicada na revista Máxima. Sempre gostei de separar as
fases de vida por unidades de dez anos, e parece-me esta abertura bem
expressiva do que foi o tom desse tempo, na sua história. Tomo, assim, a
liberdade de reproduzir o meu olhar de então, intacto:
«Quando tem uma causa a defender, fala o quanto
pode, debate, imagina, propõe ideias, dá sugestões, defende opiniões, abre
hipóteses de solução. Sabe que os
problemas que apresenta pertencem, preocupam e dizem respeito a todos. É
reconhecido o seu estilo, o seu jeito, a sua maneira de ser na fantástica
comunicação que mantém com as instituições, os poderes, os cidadãos.
Sem desânimo nem pausas ou ausências, Maria Barroso
tem tido perto de duzentas intervenções públicas em média, por ano. Umas largas
dezenas de idas e vindas entre Lisboa e as mais variadas geografias do país não
a cansam. Uma vintena de viagens anuais, acrescentando aos destinos europeus as
mais variadas rotas de longa distância estimulam-na. Para que a solidariedade
cresça no seu curso para a transformação dos males deste mundo, faz
conferências nas escolas secundárias e nas universidades, promove debates e
congressos, anima causas e acções. A família, a educação, a violência, a
assistência, a assistência aos flagelados têm sido suas razões de ser. Pela
defesa dos direitos humanos, e pela cooperação inspira- se para campanhas a
lançar, cresce em energias, tem disponibilidade absoluta. Sempre que procura
ajudas, apoios, parcerias, raramente recebe recusas, porque a urgência de
realizar é total e as soluções possíveis existem.
A solidariedade é um valor importante na sua
história pessoal, tem sido inspiração em muitos momentos da sua vida. É uma
motivação constante da sua actuação como cidadã e como mulher, desde sempre. »
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